terça-feira, 11 de agosto de 2015

Uma Pizza

Alô, é da pizzaria?

Não. É da funerária.

(Falaram que a funerária faz a pizza! E agora?)

(Ahn? A gente só quer pizza cara...)

Ah, ahm.. Eu vô querê uma pizza.

Hahaha. É. É da pizzaria sim. Fala pra mim o que você quer meu filho.

(Ela me chamô de filho... O que isso tem a ver? E aah.. O que a gente quer mesmo?)

(Pô... Qualquer coisa. Só chega de álcool.)

Grantchi de calabresa

Gigante de calabresa?

Serve

O senhor vai querer adicionar borda de queijo?

(Ei! Você... É prá por queijo na pizza?)

(Óbvio muleque... )

Tá. Põe queijo Dona.

O senhor vai querer mais algum adicional senhor?

Oi?

Ahn, por exemplo adicional de milho.

Pera moça.

(Tem que tê aquele troço amarelo? Ahn... milho?)

(Ah... põe o que você quiser... só traz essa merda)

Ok, tem que ter milho sim.

Mais algum adicional?

Ah.. É... Acho que sim...

Acha que sim senhor o quê? Você quer dobrar o recheio?

Ta. Ah, tanto faz. Minha cabeça dói.

Okay. Deu $104,38 a pizza.

Pera ai... vô vê aqui.

(Pode mandar a pizza galera?)

(Caraca cara, ainda com a Dona no telefone!? Pede logo! )

É, pode trazer moça.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

#01 Robbie

Então você nunca brincou disso? - disse Robbie.

Não. Mas quero muito.

E ele queria mesmo, mesmo sendo um novato apressado que não soubesse de nada e nem das regras.

Robbie já era o que era há anos. Não era sua profissão, mas amava como se fosse. Tinha orgulho em tirar a vida das pessoas para uso próprio. Eram três da tarde mas em algum lugar desse mundo era uma da manhã, ela costumava lembrar. A madrugada sempre fora mais envolvente. Nela, as pessoas são mais permissivas. Robbie nunca entendeu muito bem mas sempre gostou desse conforto que a escuridão traz.

E o quê você está procurando por aqui?

Quero que você me bata agora. - ele pediu

Não estou aqui para satisfazer suas vontades. Acho que você entendeu mal como isso funciona.

Ok. Me desculpe.

Ele realmente estava perdido. Ela ainda não sabe como ele chegou lá. Só sabe que ele apareceu, e que estava determinado, e que isso despertou algo nela. Já tinha algum tempo que Robbie não se apoderava de alguém e talvez ele pudesse ser interessante. Ele era claramente inexperiente e não tinha ideia de onde tinha se metido. Robbie sabia que o certo era mandar ele ir embora para sua vida tradicional.

Eu farei qualquer coisa por você.

Ele não sabe de nada. Robbie já estava acostumada, sabia que se fosse alguém do meio não teria dito isso dito de cara, na primeira frase. Para além das permissões existem os limites. O total controle do outro está somente no espaço cedido por ele. Fora disso é abuso. Ela sempre teve curiosidade em saber o que os outros fazem com os notavos inocentes.

Que bonitinho! Gostei! Faria mesmo?

Sim.

Então pule do segundo andar de qualquer prédio.

O quê? Ahn..

Agora.

Mas...

A sua vida é minha. Eu disse, agora!

E-eu, ahn, eu não... Desculpe, mas consigo fazer isso.

Que bom. Então vamos começar decentemente com as minhas regras. Vamos estabelecer limites.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Contagem

Ela pegou a mão dela. Estava tonta demais e não percebeu que mal entrou no seu quarto. Ela estava levando pro banheiro. O corredor nunca pareceu tão comprido.

Não cara, não quero ir.

Ela tinha porque tinha que tomar banho. Dez! E bateu agitada com o copinho de vidro na mesa. Vodka no copinho, suco em pó na mão e uma releitura da tequila é criada. Abacaxi, morango, laranja, limão, uva. Depois do quinto sabor o sabor não é mais importante na brincadeira.

É festa ela esta se divertindo. Seis! E logo depois ela dá um beijo demorado nela. Nem parece verdade. Cheia de vergonha ela fica porque recebeu um beijo e nem estava jogando. Um beijo que tanto queria. Beijo com gosto de todas as frutas e ela nem sabia o que fazer ou o que pensar. Música alta, gente conversando e a festa continua.

Treze! Todas as outras estavam seguindo firme na mesma rodada e os caras já tinham abandonado a partida. Elas fazem caretas quando abaixam os copinhos e eles já estão vendo televisão. Ela pega um copo d'agua e dá pra ela. Quem toma é a amiga.

Risinhos transformam em um mundo mágico. Olhares são trocados, brilhos são criados, a música é envolvente. Lábios ficam mais macios, cabelos mais sedosos, suspiros mais profundos. Ela deu outro beijo nela.

O jogo acaba. As duas vão para o quarto dela. Fecham a porta. Um!

Leis do Brasil

Da série: Histórias de Bar.

Você, advogado, sempre gostou de pescar. Claro, quem não? Até vovô conta as histórias dele vesus minhoquinhas saltitantes na beira do rio. Engraçadíssimo. É um passatempo seu desde quando dez reais eram algum valor bacana, tipo: "Caraca! Tenho dez reais!"

Mas voltando, meu caro leitor, você, pescador como é, não se contenta mais em pegar pneus e latinhas, remando no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas, ou sentado na beirada do Tietê. Eu sei, todos nós sabemos... é de partir o coração.

Então junta umas moedinhas, pega seu anzol, sua vara, minhocas e cacarecos e parte pro Pantanal. Vai de ônibus, naquela lata velha enferrujada que balança mais do que os peitos da sua sogra dançando Ragatanga. Mas tudo bem, você vai do mesmo jeito.

Chegando lá, vê que não parece nada com o panfletinho que você pegou no guia de turismo da esquina. "Que merda." - você pensa. Hahaha, desculpe, mas é uma merda mesmo. Mas quê remédio? Já está no meio do mato, cheio de mosquito, fedendo a bosta... então vamos pescar.

A minhoca no anzol, o anzol na linha, a linha na vara, a vara na água e a água a fiar.. Perdão, me empolguei. Mas continuando o seu caminho, você está lá no seu barquinho no meio do Pantanal.

Do nada, surge um puxão. E você pensa: "Oba! É um peixe!" Mais outro puxão, e outro! E mais forte! Nossa! E você se indagando que pode ter pego o maior peixe do mundo! Aê no meio dessa briga feroz e suorenta você se imagina distante, com trouféus e medalhas... flashes e câmeras de todo o mundo ao seu redor.. todo o brilho de glamour.. aquele torpor e você começa a acenar tipo Miss Brasil e não sabe o porque...

Mais outro puxão! Nessa hora cai a ficha que tá no meio do mato lutando contra o maior peixe do mundo! Oba!! Você vai e revida com um outro puxão mais e mais forte até que no último lapso de força o anzol vem e cai no meio do barco.

Era uma coisa gosmenta, vermelha e pulsante.. Que nojo. Aquilo não podia ser peixe nem no Amazonas e nem peixe mutante do Tietê. Todos os seus devaneios vão por água a baixo. Tadinho.

Algo bóia do seu lado. Algo grande, emborrachado e esverdeado. "Que porra é essa?" - gentilmente você pensa. Quando tudo se clareia e toma forma, percebe o que aconteceu:

"Puta que pariu! Tô fodido! Matei um jacaré! E agora???"

Nesse exato momento as coisas começam a ficar em câmera lenta e você lembra das suas primeiras aulas de Direito: Matar bicho em extinção é crime inafiançável... Nervoso, olha pros lados pra ver se tem um vigia por perto.

E tem.

Ele te olha de volta, sacana. Rindo da sua cara e indo pegar a papelada. Já foi. Fodeu. Você olha e não acredita. "É, me fodi". Mas de repente, num surto psicótico imitando o Tarzan, rei da floresta, você sai correndo com seu barquinho, entra na cabine do vigia, pega o seu poderoso anzol bolado 4x4 e corta a garganta do sujeitinho babaca. Ponto, tudo acabou. Aliviado você pensa:

"É... Eu escondo o jacaré e pelo menos respondo em liberdade."