quarta-feira, 10 de junho de 2015

Leis do Brasil

Da série: Histórias de Bar.

Você, advogado, sempre gostou de pescar. Claro, quem não? Até vovô conta as histórias dele vesus minhoquinhas saltitantes na beira do rio. Engraçadíssimo. É um passatempo seu desde quando dez reais eram algum valor bacana, tipo: "Caraca! Tenho dez reais!"

Mas voltando, meu caro leitor, você, pescador como é, não se contenta mais em pegar pneus e latinhas, remando no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas, ou sentado na beirada do Tietê. Eu sei, todos nós sabemos... é de partir o coração.

Então junta umas moedinhas, pega seu anzol, sua vara, minhocas e cacarecos e parte pro Pantanal. Vai de ônibus, naquela lata velha enferrujada que balança mais do que os peitos da sua sogra dançando Ragatanga. Mas tudo bem, você vai do mesmo jeito.

Chegando lá, vê que não parece nada com o panfletinho que você pegou no guia de turismo da esquina. "Que merda." - você pensa. Hahaha, desculpe, mas é uma merda mesmo. Mas quê remédio? Já está no meio do mato, cheio de mosquito, fedendo a bosta... então vamos pescar.

A minhoca no anzol, o anzol na linha, a linha na vara, a vara na água e a água a fiar.. Perdão, me empolguei. Mas continuando o seu caminho, você está lá no seu barquinho no meio do Pantanal.

Do nada, surge um puxão. E você pensa: "Oba! É um peixe!" Mais outro puxão, e outro! E mais forte! Nossa! E você se indagando que pode ter pego o maior peixe do mundo! Aê no meio dessa briga feroz e suorenta você se imagina distante, com trouféus e medalhas... flashes e câmeras de todo o mundo ao seu redor.. todo o brilho de glamour.. aquele torpor e você começa a acenar tipo Miss Brasil e não sabe o porque...

Mais outro puxão! Nessa hora cai a ficha que tá no meio do mato lutando contra o maior peixe do mundo! Oba!! Você vai e revida com um outro puxão mais e mais forte até que no último lapso de força o anzol vem e cai no meio do barco.

Era uma coisa gosmenta, vermelha e pulsante.. Que nojo. Aquilo não podia ser peixe nem no Amazonas e nem peixe mutante do Tietê. Todos os seus devaneios vão por água a baixo. Tadinho.

Algo bóia do seu lado. Algo grande, emborrachado e esverdeado. "Que porra é essa?" - gentilmente você pensa. Quando tudo se clareia e toma forma, percebe o que aconteceu:

"Puta que pariu! Tô fodido! Matei um jacaré! E agora???"

Nesse exato momento as coisas começam a ficar em câmera lenta e você lembra das suas primeiras aulas de Direito: Matar bicho em extinção é crime inafiançável... Nervoso, olha pros lados pra ver se tem um vigia por perto.

E tem.

Ele te olha de volta, sacana. Rindo da sua cara e indo pegar a papelada. Já foi. Fodeu. Você olha e não acredita. "É, me fodi". Mas de repente, num surto psicótico imitando o Tarzan, rei da floresta, você sai correndo com seu barquinho, entra na cabine do vigia, pega o seu poderoso anzol bolado 4x4 e corta a garganta do sujeitinho babaca. Ponto, tudo acabou. Aliviado você pensa:

"É... Eu escondo o jacaré e pelo menos respondo em liberdade."

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